17h53min. Ela andava apressadamente por entre as várias ruelas do centro da cidade do Recife. Apesar da aparente exaustão de um dia que começou cedo demais para seus padrões e de estar carregando três livros - que pareciam, naquele momento, ser muito mais pesados do que realmente deviam ser - na mochila em suas costas, ela apressava cada vez mais o passo. Além disso, as ruas estavam mal iluminadas e mesmo com o razoável fluxo de pedestres, era um tanto perigoso estar andando aquela hora sozinha por ali. E ser assaltada, definitivamente, não estava em seus planos. Continuou a apressar-se.
Dobrou uma esquina e logo avistou uma igreja com as portas abertas. Estava havendo uma missa, ou algo do tipo e podia-se ouvir algumas pessoas lá dentro entoando algum cântico incompreensível. Ela, obviamente, deu uma espiada. Talvez por nunca ter estado muito presente em sua vida, a liturgia católica ainda despertava certa curiosidade nela. Viu a imensa abóbada que cobria o interior da igreja, algumas pessoas ajoelhadas perto do altar e um homem com uma túnica branca com um ar bastante sacro.
- Bizarro - disse pra si mesma.
Deu de ombros. E continuou a apressar o passo.
Mais algumas esquinas e finalmente desembocou na Av. Conde da Boa Vista.
Não conseguiu conter seu desconforto ao ver aquelas centenas de pessoas se movendo freneticamente para todos os lados e o enorme número de ônibus que se agrupava em fila indiana anunciando um trânsito provavelmente caótico. Vendedores ambulantes gritavam frases semi-indecifráveis e pessoas se acotovelavam nas paradas de ônibus. Ela se sentiu num formigueiro. Pior, em um formigueiro em plena revolução, se é que existem formigas revolucionárias - elas são tão organizadas.
Respirou fundo. Se arrependeu. Quase podia sentir a fuligem entrando em suas narinas e se impregnando em sua pele.
- Droga - lamentou ela.
De repente, teve uma idéia inesperada.
- Vou cantar! - exclamou, surpreendendo-se consigo.
Começou, então, a entoar baixinho alguns versos da primeira canção que lhe veio a cabeça.
- "Michelle, ma belle..."
Parou e percebeu que tinha esquecido a letra.
Tentou puxar da memória algo melhor. Veio. Mas sabia que seria constrangedor cantar aquilo com várias pessoas passando ao seu lado na calçada.
- Foda-se - disse ela, decidida.
Pigarreou e preparou a voz para a nota que tentaria atingir em seguida.
- "The hills are alive with the sound of music..."
Não cantou muito alto, mas foi o suficiente para atrair um ou dois olhares. Se sentiu um pouco ridícula, mas continuou firme com o resto da música que sabia de cor.
Enquanto cantava, o vento batia carinhosamente em seu rosto, e apesar de na sua paisagem só haver asfalto, por um momento, ela começou a sentir que podia trazer as montanhas, rios e pássaros austríacos para lá.
Sorriu com seu delírio. Ela realmente gostava de fazer isso.
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5 comentários:
FIRST!
Legal, gostei do jeito de escrever. Seria isso uma estória em primeira pessoa disfarçada? hmmm
PAU NO CU DO FIRST!
ALINE VAI TOMAR NO CU!
HAHAHAHA
obrigada pelo apoio, Naevio ;D
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