domingo, 27 de junho de 2010

3:52
Depois de muito relutar, ela decidiu ir pra cama. Sabia que não seria uma tarefa fácil.

Já deitada, fitava o teto, ainda tentando acostumar os olhos a escuridão. Apesar da hora e do cansaço no corpo, ela não estava com sono. Na verdade, sua mente estava bem agitada. Uma confluência de imagens e pensamentos se juntavam em sua cabeça, deixando-a desperta. E era quase sempre assim.
Talvez seja culpa do momento. O silêncio, a escuridão e aquele sentimento de que só existe você em todo universo e mais nada. Aquilo sempre a deixava um pouco tensa.
Começou a pensar no ato que estava ali disposta a fazer: dormir. Por que essa tarefa tão simples parecia tão difícil pra ela?
- Pra que dormir? Precisamos descansar e repor energias, é claro. Mas não seria muito melhor se não precisássemos disso? Digo, uma ou duas horas tudo bem. Mas 8, 9 horas em cima de uma cama, sem estar ciente do que está acontecendo comigo. É como se aquelas horas nem existissem na minha vida. Além do mais, qual a garantia que eu tenho que ao adormecer, eu irei acordar amanhã? E se eu morrer durante o sono? Vou deixar de existir sem dar nenhuma satisfação a mim mesma - então reclamou consigo por estar pensando naquilo na pior hora possível.

4:25
Começou a pensar sobre o que gostaria de fazer durante o dia seguinte. Ela tinha uma capacidade incrível de planejamento. Só que com um sério problema: nunca consegue cumprir. E a teoria sem a prática acaba sendo uma qualidade nula, neste caso. Mas mesmo assim ela continuava planejando tudo. Talvez na ilusão de que dessa vez vai conseguir ou só por costume mesmo.
Alguns minutos depois, ouviu um barulho. Não sabia de onde vinha, nem o que era.
- O que seria isso?
Milhões de pensamentos ruins passaram pela sua cabeça. Cenas cruéis demais para serem exploradas naquele momento. Estremeceu. Mas não era nada. Definitivamente, aquela garota não foi feita para a noite.

4:53
Suas costas já estavam doendo de tanto se virar na cama, buscando uma boa posição para dormir. A sensação de solitude ainda permanecia e as horas pareciam não querer passar. Ela continuava inquieta, mas pelo menos já dava sinais de sonolência. Bocejava com frequencia.

Até que, finalmente, o sol começou a nascer. A escuridão foi se dissipando e os primeiros raios começaram a clarear o ambiente. O silêncio foi quebrado pelo canto dos pássaros. A inquietude que a acometeu durante toda a madrugada deu lugar, então, a um sentimento de paz e calmaria que só a aurora pode trazer. Pensou seriamente em dar uma olhada no nascer do sol, mas lembrou das grades da janela que dificultariam uma boa visão. Ficou triste, mas antes que pudesse ter qualquer outro pensamento, o sono começou a tomar conta dela. Esqueceu a tristeza, e até de si mesma para entrar naquele estado onírico, não sem antes ter um pequeno delírio quase inconsciente.
- Espero que eu não acorde em forma de barata - pensou, segundos antes de adormecer, fazendo-a, minutos mais tarde, sonhar com um monte de baratas.
Só me faltava essa, Kafka.
 

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